As crises nas relações, no trabalho, na família, no amor, dão muitas vezes origem a sentimentos de raiva difíceis de controlar. Nas manifestações desencadeadas pela crise económico-política, os manifestantes tentam derrubar grades e atirar pedras aos polícias, percepcionados enquanto símbolos do Estado, elemento tornado ameaçador (e potencialmente destruidor) da segurança do indivíduo e do bem-estar social. Tal como na natureza, a resposta dos seres humanos perante a ameaça externa imprevisível é fugir ou lutar. A raiva suporta o instinto de lutar pelo território, pelo amor e pela vida. A raiva serve essencialmente como mecanismo de defesa do eu perante uma ameaça destruidora do mesmo.
Contudo, nas relações, a raiva é percepcionada pelo outro como uma intenção expressa de magoar ou ferir. Insultos, ameaças, julgamento depreciativo da outra pessoa e da sua conduta são expressões comuns deste sentimento. Outros padrões mais sofisticados podem incluir comportamentos passivo-agressivos como a recusa ao diálogo ou à cooperação com o outro, a chantagem emocional, a imposição coerciva de condições, a ausência propositada com o fim de demonstrar poder sobre a outra pessoa, deixando-a em espera e numa posição de maior vulnerabilidade, decorrente da incerteza da situação. Continuar a ler