Manter o outro no lugar do desejo e não do medo
A pandemia do Covid 19 e o confinamento obrigatório têm levantado inúmeras questões psicológicas e sintomatológicas que vão desde estados depressivos a irritabilidade, de obsessões hipocondríacas a uma moralidade punitiva face aos que não cumprem as regras do confinamento que não parece ser mais do que o desejo primitivo da proteção e sobrevivência da comunidade face a uma ameaça de aniquilamento ou desagregação social. Perante os vários sintomas, cada um tem encontrado diferentes maneiras de gerir o seu quotidiano seguindo os conselhos à la carte publicados todos os dias online ou na televisão ou melhor ainda confrontando-se consigo mesmo na solidão ou no espaço contíguo da relação. As relações e a separação do outro surgem agora com outro significado. Por um lado, as relações que sobrevivem à epidemia parecem ser as que nós realmente desejamos ou se têm constituído como suportes do nosso Eu face a uma realidade externa instável e neste momento ameaçadora. Outras relações surgem no mundo interno como resquícios do que já foram, evocam lembranças distantes, obviamente afetivas, algumas de sabor amargo mas na maioria dos casos com um sabor agridoce, objetos de lutos mal resolvidos, familiares que perdemos o contacto ou pessoas com quem simplesmente deixamos de compartir a nossa vida mas em que em um determinado momento foram importantes e significativas.