A Vida Sexual do Casal

Muitos leitores têm colocado diversas questões relativas à sexualidade no contexto da relação, em particular as questões relativas à falta de desejo.

Na sua última obra intitulada Resurrecting Sex (2002), David Schnarch,  um autor de referência na área da sexualidade e terapia familiar, apresenta em linguagem acessível um modelo para ajudar os casais a compreender e ultrapassar os problemas sexuais.

Schnarch considera que o funcionamento sexual da relação é um reflexo da forma como nos posicionamos face à outra pessoa e da maneira como toleramos a nossa ansiedade no contexto da relação. Por outras palavras, a pessoa mais segura de si não ficará dependente da resposta do parceiro(a) para validar o seu comportamento e o seu desempenho sexual. A pessoa mais diferenciada será aquela que melhor tolera e aceita as suas fragilidades e como tal tem melhor capacidade para dialogar com o parceiro(a) sem se sentir posta em causa.

Por exemplo, se um dos elementos do casal depende da resposta do outro para se sentir atractivo e desejado, ficará sempre refém do comportamento do primeiro e da ansiedade que poderá sentir se este se afasta temporariamente mesmo que por outro tipo de razões.

A pessoa mais diferenciada tem melhor capacidade para manter-se calma e em consonância com os seus valores quando é desafiada pelo parceiro(a). A pessoa que é capaz de se confrontar consigo mesma consegue ficar menos reactiva quando o parceiro(a) fica ansioso ou provocador. A capacidade para tolerar o desconforto da diferença de opiniões permite à pessoa afirmar-se na relação, crescer e ultrapassar os problemas que possam surgir através da capacidade para aceitar que o outro é diferente dela.

Na obra referida, Schnarch estabelece um modelo para resolução dos problemas sexuais  dos casais organizado em três eixos fundamentais: 1) optimização da capacidade de resposta do corpo; 2) optimização da estimulação recebida e 3) optimização dos sentimentos, emoções e pensamentos, incluindo a relação com o parceiro(a).

A resposta do corpo está condicionada por factores fisiológicos decorrentes da idade, níveis hormonais e uma variedade de questões médicas que podem interferir no desempenho sexual. Um exame médico completo poderá identificar algumas das causas das dificuldades sexuais. Contudo, convém lembrar que o corpo não opera desligado da mente e que grande parte dos problemas sexuais têm uma componente psicológica. Até para os problemas estritamente médicos existe sempre uma resposta emocional. Nos problemas sexuais a componente emocional estará invariavelmente presente quer seja como causa ou como resultado.

Scharnch considera que a estimulação sexual implica que os parceiros sejam tão voluntariosos para dar prazer como para receber. O autor considera que a conexão emocional durante o sexo é um pressuposto necessário para optimizar a estimulação sexual. Dar as mãos ou olhar nos olhos durante a relação sexual pode ajudar a retomar a conexão emocional quando esta se perde, como por exemplo nos casos em que a pessoa tem dificuldade em associar o acto sexual à expressão de afecto pelo outro. A quantidade e a qualidade da estimulação sexual estão muitas vezes relacionados com a disponibilidade para ir ao encontro do outro e das iniciativas que este possa tomar. Uma atitude não defensiva e um maior investimento nos preliminares ajudam o corpo (e a mente) a descontrair e facilitam a resposta sexual.

A estimulação sexual do casal está claramente associada aos pensamentos, sentimentos e emoções decorrentes do funcionamento da relação. Os casais que têm por hábito partilhar actividades, apoiarem-se mutuamente nos momentos difíceis e colaborarem nos processos de decisão sentem-se mais próximos emocionalmente e mais disponíveis sexualmente. Se uma das  pessoas está zangada, frustrada ou ressentida com a outra torna-se muito difícil a aproximação e tende diminuir o desejo sexual. Lidar com os problemas que despoletam sentimentos negativos  e aceitar falar sobre as razões de cada um numa atitude conciliatória e não acusatória promove a auto-estima de ambos os membros do casal e reforça a intimidade.

Schnarch sublinha as vantagens dos casais expandirem o seu reportório de comportamentos sexuais, experimentando situações em que possam explorar a forma como cada um se pode expressar através do sexo, incluindo fantasias e aspectos transgressores que tornam a relação sexual mais erótica. O erotismo é uma experiência subjectiva e reveladora do nosso mundo interior. A capacidade para partilhá-la com o parceiro(a) reforça os laços afectivos ao mesmo tempo que promove a aceitação do outro como um todo.

O comportamento sexual é em grande parte resultado da relação que temos connosco mesmo e  da forma como nos vemos a nós e aos outros. Muitas vezes as pessoas procuram justificar os seus problemas devido a condicionantes psicológicos, aspectos culturais e sociais. Schnarch considera que o significado dos problemas sexuais não é necessariamente a causa destes mas antes o resultado. Por exemplo o significado atribuído à falta de prazer na relação pode reforçar o problema e condicionar a forma de o resolver.

Melhorar a relação sexual implica tolerar maior conexão emocional e capacidade para arriscar ser diferente, reconhecendo que podemos mudar sem receio de perder a nossa identidade. A dificuldade de alterar o comportamento sexual reside precisamente na relação intrínseca entre o que nós somos e como nos comportamos sexualmente. Segundo Schnarch, modificar o comportamento sexual  implica mudar aquilo que eu sou e a relação com o outro e este será o maior desafio colocado nos problemas da sexualidade.

Referências:

Schnarch, David (2002). Resurrecting sex. New York: HarperCollins Publishers.

10 thoughts on “A Vida Sexual do Casal

  1. so casado ha 5 anos de um serto tempo o meu casamento esfrior bastantante chegou ao ponte de procura a minha esposa e ela rejeita e isso machuca muito chegamos a ficar ate 15 e ate 20 dias sem se quer trocar beijos passa mil e uma coisa pela cabeça ate mesmo de sair para procura relaçoes com uma outra pessoa. mais nao tenho coragem, ja ate cheguei a me deita com uma outra mulher mais na hora mesmo nao tive coragem. so o fate de ter chegado ate esse ponto me doe muito por que nao me casei para ter que sai e procura mulheres na rua isso ja fais uns 6 meses mesmo assim me pergunto porque que chegei a fazer isso… de uns 15 dias pra car ja perdi noites de sono por procura a minha esposa e ela vira para o outro lado agora mesmo parece que foi criada uma barreira que nao to tendo coragem de procura nao sei o que fazer…Nao sou de ta em frente de bar bebendo, nao saio para jogar bola porque nao gosto, de um ponto estamos bem perto um do outro de outro estamos bem distante. temos um filho maravilhos de 1 ano e 9 meses melhor coisa que me aconterseu ……… o que fazer???

    • Caro Alves, a situação que descreve da falta de desejo da sua mulher poderá estar relacionada com factores individuais e relacionais que necessitam de ser avaliados por um terapeuta. Aconselho-o a procurar ajuda dum sexólogo ou terapeuta de casal para poder desenvolver uma estratégia para recuperar a sexualidade do casal. A inibição do desejo é um problema comum nos casais e em muitas situações é necessário o apoio terapeutico para poder compreender os múltiplos factores que podem estar em jogo como me parece ser no seu caso e desenvolver as intervenções adequadas.

  2. Tem 8 anos que estou com meu marido,casados morando junto tem 10 meses mas de uns tempos para cá.as vezes me sinto no fundo do posso a nossa relação está muito fria,as vezes acho que ele está me negando,as vezes acho até ser muito atirada só pensar em transar.mas não é isso não ,chego as vezes até chorar pois não imaginava que ia tornar assim,mas sou uma pessoa que não gosto de falar dá minha relação para outras pessoas e ainda não tive coragem de procurar um proficional o que devo fgazer estou sofrendo muito com isso.”Por favor me responda!”

  3. Estou com a minha companheira à 3 anos e actualmente estamos a passar uma fase complicada. Sinto que ela está um pouco afastada e com menos interesse em mim. A nível sexual temos relações muito esporádicas mais ou menos de 3 em 3 meses. Custa-me muito porque sinto um forte desejo por ela e preocupa-me a sua falta de interesse. Sei que muitas vezes as traições começam assim e só de imaginar fico bastante perturbado. Também sei que o principal problema está em mim, porque quando me envolvo a sério foco-me bastante na outra pessoa e isso cria nela uma sensação de asfixia. Penso que deveria alterar o meu comportamento em relação a ela, sou muito amoroso e cuidadoso mas penso que isso não é assim tão valorizado por ela. Também não quero aumentar o meu ego e satisfazer a minha necessidade de paixão fora de casa. Mas sinto que preciso de melhorar os meus níveis de autoconfiança e passar para ela uma imagem mais independente e segura. O sexo entre nós não tinha tabus e sempre senti que dava muito de mim e ao mesmo tempo sentia o desejo dela. Como faço para retomar esta nossa vida sexual que tanta falta nos faz? Obrigado pela atenção!

    • Olá Bruno estar investido na outra pessoa na relação intima não deve ser um problema mas uma vantagem na medida em que estamos atentos ao outro e ao que nos diz sobre si e sobre a relação. O que está acontecer na sua relação é um problema real que precisa de ser abordado: o casal tem relações sexuais com uma frequência muito baixa, esta situação é muito insatisfatória para si e a sua companheira está com o desejo claramente diminuído. Todas estas questões poderão ter múltiplas explicações relacionadas com factores individuais ou decorrentes da evolução e dinâmica da relação. Contudo poderá começar por discutir o assunto com a sua companheira e saber o que esta pensa e sente sobre este tema, e tentarem encontrar soluções em conjunto que vão ao encontro das necessidades de ambos. Para retomar a vida sexual do casal têm de haver iniciativa e investimento das duas partes da relação, parece-me que está a colocar a responsabilidade da resolução do problema em si. Trata-se dum problema do casal que deve ser abordado enquanto tal. Existem várias estratégias para recuperar o desejo e o interesse sexual na relação mas que obviamente requerem uma análise mais cuidada de toda a situação do casal num contexto terapêutico.

  4. Gostaria de uma ajuda. conheço meu esposo a 13 anos e sou casada a cinco. conversei com meu esposo e o que ele relata que ja faz uns 4 meses que nao sente mais aquela atração por mim, desejo. A gente se da muito bem. Nos temos relações , mas pra ele não esta bom, não sente mais aquele amor. o que é preciso fazer pra ele voltar a me desejar. Nos queremos salvar nosso casamento. O que devemos fazer?

    • Nadia, como já tenho referido aqui a falta de desejo é a queixa mais frequente nos casais que procuram ajuda na área da sexualidade. É por isso frequente que durante uma relação de longa duração, uma das pessoas ou as duas possam sentir o desejo diminuído ou mesmo inibido. Trata-se dum problema que requer normalmente ajuda terapeutica. Por outro lado não é preciso sentir-se apaixonado para ter desejo, como refiro no texto existem outros aspectos da relação que ao longo do tempo contribuem para estimular a vida sexual do casal. Pode ler também o artigo “Falta de desejo” que sugere algumas ideias mas o melhor mesmo é fazer terapia de casal pois muitas vezes a falta de desejo está a encobrir outras questões da dinâmica do casal.

  5. A algum tempo a vontade de tranzar com meu marido diminuiu. quando ele me procura eu nao sinto vontade, e fico reclamando pois a maneira dele vir me irrita e fico criticando os modos dele chegar a mim. nao nos beijamos com frequencia, e as poucas vezes que ele me beija eu desvio. nao sinto vontade de beijar. nao dormimos na mesma cama a algum tempo talvez isso influencie nao sei. so tenho orgasmo no sexo oral, nna penetracao nunca consigo o orgasmo, quando penso que vai de repente a vontade passa. nao sei se o problema esta nele ou em mim. somos casados a 12 anos tenho 2 filhos uma garota de 11 anos que é autista, e um garoto de 7 . Gosto muito do meu marido e nos damos bem na convivencia. as vezes quando brigamos e passamos muito tempo brigados e ele vem me procurar ate rola desejo.
    quando passamos muito tempo ser ter contato intimo, mais estamos bem, e ele vem me procurar ai nao rola. o que esta acontecendo comigo? Não era assim antes.

    • Taciane várias questões se levantam com o seu mail. Segundo descreve você só sente desejo pelo seu marido quando estão zangados e logo afastados. Poder-se-á deduzir que o sexo terá uma função de reaproximação e conquista como se fosse necessário sentir que o pode perder para poder ter desejo por ele. Quando o casal está bem a Taciane tende a deserotizar a relação o que me parece ser um boicote inconsciente da relação que poderá estar relacionado com questões individuais ou aspectos da relação que não a satisfazem. A opção de dormirem separados reflecte um certo afastamento do casal a nível físico e emocional embora refira que o casal se dá bem. Mais uma vez parece-me que tenta usar uma estratégia para que se sinta afastada do seu marido para poder ter desejo por este, reforçando a ideia que maior proximidade inibe a parte erótica da relação. Por vezes numa relação de longa duração como a sua, as pessoas passam por perídodos de diminuição do desejo, parecendo haver uma contradição entre o vínculo mais profundo que une o casal e o desejo físico que por vezes tende a esmorecer com o tempo. Convèm estar consciente que afastar-se ou criticar o seu marido quando ele se aproxima acaba por ser destrutivo para a relação embora seja este afastamento que de alguma maneira parece ajudá-la a ter desejo por ele. Como me parece bastante complexa a sua situação aconselho-a a procurar ajuda com um psicoterapeuta ou terapeuta sexual. Por último o orgasmo feminino na penetração é sempre muito mais difícil pois para a mulher atingir o orgasmo necessita de estimulação do clítoris produzido de forma mais eficiente através do sexo oral ou dos dedos, esta ultima estimulação poderá ser realizada pelo homem quando penetra a mulher para a ajudar a atingir o orgasmo.

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