Em Portugal a aprendizagem da sexualidade está ainda caracterizada pela clandestinidade, por sentimentos de vergonha e pudor associados às práticas sexuais e em alguns contextos o sexo é sinónimo de pecado, sujidade e impureza. A privacidade dos adolescentes não é muitas vezes respeitada pelas famílias cada vez mais obsessivas com o controle sobre os filhos. Os rapazes têm frequentemente dificuldade em se masturbar de forma descontraída com receio que as mães apareçam de surpresa no quarto. Mesmo quando começam a namorar os jovens portugueses estão normalmente sujeitos a terem as primeiras relações sexuais nas casas dos pais, no carro ou em situações que despoletam um nível elevado de adrenalina ao qual se acrescenta a natural ansiedade de desempenho resultante das primeiras experiências sexuais.
Não é por isso de admirar que em contextos em que as práticas sexuais estão sujeitas a tantos restringimentos que as relações sexuais sejam optimizadas e que a ejaculação aconteça de forma prematura como resposta às situações referidas. No caso de Portugal, depois das primeiras experiências sexuais, os rapazes heterossexuais têm alguma dificuldade em manter uma vida sexual activa mesmo quando estão em relação. Não só porque vivem até tarde em casa dos pais mas também porque as raparigas por razões culturais muitas vezes procuram valorizar-se perante os rapazes, usando a sua (in)disponibilidade sexual como forma de manipular a relação e o jogo da sedução. Curiosamente os homens homossexuais não tendem a ter problemas de ejaculação precoce devido à facilidade com que encontram parceiros para sexo e ao intenso treino adquirido nos primeiros anos de actividade sexual.
Obviamente a ejaculação precoce não é só um problema dos homens portugueses, embora a incidência seja muito elevada no nosso país. Na verdade a ejaculação precoce é a uma das disfunções sexuais mais comuns e estima-se que um terço dos homens não se considerem satisfeitos com a sua capacidade para controlar o orgasmo.
Quase todos os homens ejaculam de forma prematura nas primeiras relações sexuais e só com o tempo e prática adquirem o controle necessário para atingir uma experiência mais gratificante e satisfatória. Contudo, muitos deles acabam por definir o seu desempenho sexual pelo tempo apreendido para chegar ao orgasmo, que passa a ser um mecanismo involuntário muito difícil de controlar. Alguns homens acabam mesmo por associar a ejaculação prematura a uma libido fogosa que assim manifesta a intensidade do desejo e excitação pelo objecto sexual.
A definição, causas e tratamento da ejaculação precoce são diversas e motivo de desacordo e controvérsia entre os especialistas. A característica comum a todas as definições é que o homem sente que tem pouco ou nenhum controle sobre o momento da ejaculação o que o leva normalmente a sentimentos de vergonha e inadequação. Esta problemática adquiriu maior importância social nas últimas décadas, em que a duração da relação sexual passou a ser mais valorizada associada ao enfoque no prazer sexual de ambos os parceiros em lugar da viabilidade reprodutiva.
São vários os tratamentos para a ejaculação precoce. Os mais comuns são as intervenções comportamentais em que são prescritos exercícios para a ser realizados individualmente ou com a parceira(o) com o intuito de (re)aprender o controle ejaculatório. Estes exercícios são acompanhados por uma avaliação da história sexual e de desenvolvimento do paciente com vista a serem identificados conflitos ou desconforto com a sexualidade que possam estar a obstaculizar o desempenho sexual. O objectivo passa por incrementar a auto-confiança e a compreensão e diluição das causas que estiveram na origem do problema.
Outro tipo de abordagem pode ser realizada através da relação, avaliando-se a evolução da sexualidade do casal e a percepção que cada um terá do “problema”. A dinâmica da relação, as questões relacionadas com a sexualidade na família de origem de cada pessoa e o contexto sócio-cultural em que cresceram são outros aspectos a ser considerados. A prescrição de exercícios é focalizada na interacção entre os membros do casal.
Por último, pode-se recorrer a medicação como complemento do tratamento psicoterapêutico, sendo comum o recurso a antidepressivos da categoria SSRI, que actuam sobre o mecanismo de recaptura de serotonina no cérebro e o Viagra. Tanto uma medicação como a outra de forma geral atrasam a ejaculação, embora como com todos os medicamentos, as respostas são variáveis e a escolha do medicamento deverá obedecer a uma avaliação cuidadosa por parte de um médico especializado nesta área.
Apesar da variedade de intervenções, o sucesso do tratamento nem sempre é garantido e as “recaídas” são comuns. Segundo um dos maiores especialistas na matéria, Derek Polonsky (2000), é fundamental compreender o significado da sexualidade para o homem, a sua capacidade para se sentir confortável na relação intima, e o papel que a ejaculação precoce poderá ter na dinâmica relacional. Polonsky sugere quatro tipos de ejaculação precoce: a Simples, a Simples e Relacional, a Complexa e a Complexa e Relacional.
A ejaculação precoce simples será a mais fácil de tratar e com maior taxa de sucesso nos resultados e permanência destes. Nos casos em que estejam implicadas questões relacionais, o tratamento é mais complicado e está dependente da colaboração da parceira(o), das suas questões individuais e da dinâmica do casal. Os casos mais complexos envolvem problemas psicológicos independentes das questões da sexualidade e implicam uma terapia mais complexa e de maior duração, quer a nível individual quer a nível do casal.
Referências:
Polonsky, D. C. (2000). Premature Ejaculation. In S. R. Leiblum & R. C. Rosen (Eds.), Principles and practice of sex therapy (3rd ed., pp. 305-332). New York: Guilford Press
foi uma grande ajuda