Depois da Infidelidade

O impacto psicológico causado pelas situações de infidelidade leva muitas pessoas a procurar a terapia de casal e a terapia individual para tentar ultrapassar as feridas abertas pela quebra das expectativas sobre o outro e sobre a relação.

A definição de infidelidade inclui duas componentes comportamentais: 1. Um dos parceiros envolve-se com um terceiro em comportamentos de cariz sexual que violam de forma explícita ou implícita as expectativas da relação; 2. Um dos parceiros envolve-se com um terceiro em comportamentos de natureza não-sexual tais como partilhar tempo, sentimentos e pensamentos que violam de forma explícita ou implícita as expectativas da relação.

Em qualquer dos casos, a definição de infidelidade caracteriza-se, de forma explícita ou implícita, pela quebra do compromisso acordado por ambos os membros do casal. A natureza do compromisso e a forma subjectiva como é assumido e sentido é por vezes a primeira questão que se levanta num cenário de infidelidade. Muitos casais não discutem o compromisso esperado e possuem percepções diversas sobre os comportamentos aceitáveis na relação com terceiros. Contudo, são de facto os comportamentos claramente não expectáveis que produzem situações de maior risco para a relação nomeadamente quando uma das pessoas é surpreendida com a evidência da quebra do compromisso e a forma como este se transforma numa situação de clara agressão e violação do parceiro.

As razões que levam a situações de infidelidade são múltiplas e incluem sempre uma componente relacional, ou seja a quebra do compromisso é derivada duma dinâmica em que o parceiro assume ou assumiu um papel visto pelo outro como passível de ser violado. Por exemplo, relações em que as pessoas têm pouca intimidade ou em que uma assume um papel cuidador e parental em relação ao outro, levam por vezes um dos membros a procurar preencher as suas necessidades emocionais e sexuais fora da relação. Factores culturais e sociais podem ter um peso relevante nas situações de infidelidade. Experiências sexuais fora da relação são por vezes encaradas como aceitáveis pelo seu cunho clandestino e transgressor por oposição ao carácter estável, social e moralmente adequado às necessidades do sujeito e ao seu enquadramento familiar. Obviamente que esta análise é circunscrita aos padrões observados nas sociedades ditas ocidentais e não pode ter a mesma aplicação em culturas que encaram a fidelidade de forma manifestamente diversa.

Não obstante, a estrutura psicológica individual é um factor preponderante nos cenários de infidelidade. Excluídos os casos do foro patológico, as dinâmicas relacionais reflectem sempre a forma como as pessoas são diferenciadas e capazes de assumir o compromisso com o outro. A história familiar e de desenvolvimento têm um peso determinante na construção dos padrões interpessoais, na reprodução de padrões relacionais experienciados no passado ou na projecção na outra pessoa de aspectos de si próprio não resolvidos. Por exemplo, a falta de validação e gratificação narcísica durante o crescimento poderão levar a uma desvalorização do vínculo afectivo com o parceiro e à procura dum elemento exterior à relação com funções excitatórias ou mágicas sentidas como reparadoras de falhas no desenvolvimento do indivíduo.

O plano de tratamento pós-infidelidade no contexto da terapia de casal pode comportar diferentes objectivos. Os membros do casal podem estabelecer como objectivo recuperar a relação e terminar de imediato o caso extra-conjugal se este ainda não estiver terminado. O casal pode também optar por um plano ambivalente, neste caso o objectivo é clarificar o futuro da relação e do affair. Por último, ambos os membros do casal podem desejar terminar a relação e o objectivo da terapia é a separação nas melhores condições possíveis. Em qualquer das situações o terapeuta compromete-se com ambos os parceiros em não ocultar do outro nenhum dos aspectos confidenciados em sessões individuais e em colaborar no sentido de promover o bem-estar do casal.

Neste sentido, a terapia procura defender ambos os membros do casal de ameaças ou acções que possam magoar o próprio ou o outro. São verbalizados as razões e os sentimentos decorrentes do caso extra-conjugal com respeito e consideração pelo parceiro. Procura-se avaliar o impacto psicológico do affair em ambos os membros do casal e desenvolver intervenções com vista a resolver e a aliviar os sintomas detectados, que no caso da vítima podem compreender sintomas de stress pós-traumático e ou depressão. São exemplos destas intervenções, desenvolver estratégias para lidar com pensamentos intrusivos relativos ao affair experienciados pela vítima, promover formas de expressão dos sentimentos e compreensão pelo ponto de vista do outro.

Uma vez que estejam identificados os factores que conduziram à situação de infidelidade e definidos os objectivos da terapia, o casal enceta um projecto de mudança na relação em que se procura estabelecer individualmente os aspectos a alterar com vista a promover a recuperação da relação ou eventualmente a optar pela separação.

As crises provocadas por situações de infidelidade, apesar de muito dolorosas, são muitas vezes oportunidades para o casal repensar o projecto de relação e confrontar-se com mudanças individuais que implicam o crescimento emocional de ambos os parceiros. A co-responsabilização das situações criadas e a capacidade para aceitar os erros cometidos são passos decisivos para restabelecer uma relação mais significativa e duradoura. Uma melhor compreensão das nossas vulnerabilidades e a possibilidade de as poder partilhar com o outro reforça a intimidade do casal e promove uma visão mais realista da vida conjugal.

3 thoughts on “Depois da Infidelidade

  1. No meu caso e para mim não se trata de infidelidade coisa que o meu companheiro intrepreta como tal, antes de assumirmos uma relação séria tive outras relações embora já tivesse saído algumas vezes com o meu atual companheiro as quais que assim que assumi compromisso com meu companheiro e até aos dias de hoje não voltei a ter relacionamento com ninguem. Mas não tem sido nada fácil sou constantemente acusada e confrontada com mau humor dele e a conversa vai dar sempre ao mesmo eu traí e continuo a faze lo depois de casada, abediquei de muitas coisas que gostava de fazer, pos de lado amigos e até familia e tento fazer tudo para que ele não volte a tocar no assunto mas não…. A nossa relação está a chegar a um limite ele precisa de ajuda psicologica o qual já procurou mas se abre comigo e eu respeito mas pelo que sei que o médico lhe disse ele é uma pessoa que imagina as coisas e está sempre pensar naquilo o que o leva a ter comportamentos massacrantes psicologicamento comigo e que estou a precisar de ajuda também.

    • Sara, parece-me que o comportamento do seu companheiro para consigo é persecutório e abusivo uma vez que não se baseia em factos reais mas em suspeitas imaginadas por ele. Este comportamento não é tolerável na relação, é uma forma de controlo e abuso psicológico e deverá recorrer a ajuda psicoterapêutica para lidar com esta situação que é muito perturbadora e destrutiva da auto-estima e auto-confiança da pessoa.

      • Pois eu trai o meu marido . nao me sinto orgulhosa. fi-lo por nao acreditar mais na nossa relacçao. desde ha 3 anos para ca depois de emigramos senti que a nossa relacçao se foi desgastam-do. ele comecoua a beber, nao fazemos nada juntos actividades, passear ir ao cinema, enfim. nao ha vontade da parte dele. aos fins de semana vai ter com os colegas para o centro portugues e jogar a bola…
        ele descobriu a minha traiccao e nao que fazer o teste para saber se o problema é dele ou nao de nao termos filhos…
        cada vez que tentamos conversar ou trocar opnioes acaba em discucao.so foi uma vez que o trai mas desde ai ha dois anos para ca tem sido muito mau para nos.

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